Autoconhecimento - o que é se autoconhecer de fato
- Gabriel Menezes

- 21 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de out.

Uma grande motivação para vir à terapia é se autoconhecer. Para muitas pessoas, ganhar conhecimento sobre a pessoa com quem passamos mais tempo, nós mesmos, é fonte de motivação ou mesmo preocupação.
Isso pode parecer uma questão apenas para alguns, mas há algo a se observar. Quando questionamos a maioria das pessoas se elas se autoconhecem e como se descrevem, em grande parte do tempo, há um padrão. Receberemos respostas como: Sou medroso, sou raivoso, sou ansioso, sou tímido, sou estressado, sou limitado, etc.
Mas qual seria a causa desses adjetivos? Qual seria o efeito de se ver e se descrever assim? Haveria outra forma de se autoconhecer? Qual é a visão da Psicologia sobre isso?
Buscando responder a essas perguntas, primeiro devemos nos atentar a tudo que interfere sobre como agimos. Em primeiro lugar, a genética que herdamos dos nossos pais tem sua influência. Em segundo lugar, o ambiente em que fomos criados, educados, formados e no qual existimos agora exerce sua pressão sobre nossos comportamentos. Em terceiro lugar, a cultura dos locais onde estávamos e estamos na etapa anterior exerce seu papel particular também.
Essa ordem não é de prioridade. Todos esses fatores exercem sua influência sobre a pessoa que somos. Apesar disso, como não temos controle sobre nossa genética, o processo de terapia se foca nos fatores ambientais e culturais. Em sessão, ambos podem ser analisados e compreendidos, para, em seguida, receberem intervenção a depender do que foi discutido entre paciente e terapeuta e que for do interesse do primeiro.
Para não ficar tão abstrato, tomemos o exemplo de uma mulher que se descreve como estressada. Ela pode ter sido criada em um ambiente familiar muito exigente, onde a sensação de urgência é constante. Além disso, atualmente, pode ter uma rotina puxada dividida entre carreira, tarefas domésticas e cuidado dos filhos. Aí entra o fator cultural: por ser mulher, sofre mais pressão para ser uma cuidadora da casa e da família, gerando mais cobranças e sensação de urgência, o que a faz descrever-se como “estressada”.
Outro exemplo: um homem que se descreve como raivoso. Ele pode ter sido criado em um ambiente de pouca escuta e acolhimento, onde só recebia atenção após ter uma explosão de raiva. Atualmente, pode viver numa grande metrópole, cujos serviços são marcados por muita burocracia e demora. Desse modo, ele percebe que só é respeitado como cidadão e consumidor quando fala e age com raiva, fortalecendo esse sentimento. Além disso, por ser homem, tem suas reações de raiva mais toleradas e, até mesmo, incentivadas socialmente, fortalecendo o rótulo de “raivoso”.
Mas então, haveria um problema em um autoconhecimento baseado em adjetivos? A resposta é sim, caso eles sejam a única fonte de autoconhecimento. Caso essa mulher ou esse homem não levassem em conta todo esse contexto que os influencia, poderiam achar que isso é uma característica intrínseca deles ou até que eles próprios são o problema.
Também é preciso notar como esses adjetivos surgem a partir da observação do comportamento individual, cuja causa remonta às variáveis mencionadas anteriormente. Isso não tira a importância de fatores genéticos, intrínsecos ao indivíduo. Porém, como mencionado, eles não são a única causa das nossas características.
Ademais, esses rótulos também podem ter sua influência sobre nosso comportamento, causando a chamada rigidez. Deixamos de experimentar algo novo porque somos “medrosos”; deixamos de ir a eventos sociais, porque somos tímidos; deixamos de fazer projetos para o futuro porque somos “desorganizados” ou “preguiçosos”.
Em todos esses casos, provavelmente há fatores ambientais, pensamentos e sentimentos difíceis que bloqueiam esses novos hábitos e merecem ser acolhidos. Porém, mais uma vez, vemos que o adjetivo não é a causa do comportamento e que não há nada de intrinsecamente errado com a pessoa em questão.
Podemos pensar da mesma forma sobre pessoas com diagnósticos. Ao se descreverem como “ansioso, depressivo, autista, TDAH”, essas pessoas sinalizam dificuldades reais que merecem ser reconhecidas, acolhidas e respeitadas. Porém, assim como todas as pessoas, seus comportamentos são influenciados pelo ambiente e pela cultura também. Limitá-las a seus diagnósticos também pode ser visto como uma forma de invalidação e discriminação.
E no caso de adjetivos positivos? Sou corajoso, sou carinhoso, sou atencioso, entre outros? Nesse caso, a depender do contexto, eles podem ser úteis ou limitantes também.
Por exemplo, uma pessoa que se descreve como corajosa pode se desafiar a experimentar novas experiências e enfrentar seu medo para agir com coragem. Podemos dizer que esse é um valor que ela carrega e que pode levá-la a experiências prazerosas e cheias de propósito, mesmo que isso envolva alguns sentimentos difíceis.

Por outro lado, essa pessoa pode se ver envolvida em certas atividades simplesmente porque ela deve ser corajosa. Nesse caso, além de arriscar a própria saúde e a saúde de outros, ela não teria quaisquer ganhos, senão manter seu posto de corajosa. Assim, ela agiria não pelo prazer de ser corajosa, mas pelo medo de não ser vista dessa forma, desrespeitando os próprios limites.
Dessa forma, compreendemos que o autoconhecimento pode vir em forma de adjetivos, mas não só. Há fatores ambientais, históricos e culturais a serem levados em consideração também. Apropriar-se dessas causas é entender o que torna sua vida mais sofrida ou mais prazerosa, mais limitante ou mais motivadora.
O autoconhecimento costuma ser o primeiro passo para sair de momentos difíceis e embarcar na jornada de uma vida com propósitos e sonhos. Se isso te tocou, busque um psicólogo e comece o quanto antes a conhecer a si mesmo!

